BC gasta US$ 12,7 bilhões em 4 dias, mas escalada do dólar não arrefece
Mesmo com o Banco Central já tendo vendido US$ 12,7 bilhões desde a última quinta-feira, 12, na maior injeção de recursos no câmbio desde a pandemia, em março de 2021, o dólar voltou a fechar em alta nesta terça, 17, renovando a máxima histórica em relação ao real. A moeda americana encerrou o dia cotada a R$ 6,096, avanço de 0,04%.
Ao todo, foram US$ 7 bilhões em três leilões de linha, que representam a venda de moeda com compromisso de recompra, e outros US$ 5,76 bilhões por meio de quatro leilões à vista. Conforme apurou o Estadão/Broadcast, o BC tem mapeado diariamente com os operadores de câmbio a previsão de saída de dólares do País. Os leilões pontuais têm servido para garantir a liquidez, oferecendo moeda conforme a demanda, diante de um fluxo de saída significativo.
Ontem, o BC voltou a fazer dois leilões. O primeiro, logo cedo, atingiu US$ 1,27 bilhão. O valor, porém, não foi suficiente, e pouco depois das 12h o dólar atingiu a máxima do dia - de R$ 6,20. Em reação, no início da tarde o BC teve de vender mais US$ 2,01 bilhões. Após esse segundo leilão, a moeda americana cedeu e chegou a ser negociada a R$ 6,05, para voltar a subir no fechamento.
Para o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, o País vive um "estresse financeiro muito grande", dada a resistência do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em promover uma "moderação fiscal". Além da apresentação de um pacote considerado pífio, houve o anúncio simultâneo da proposta de isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais.
"Ficou tudo nas cotas do BC, que já promoveu um brutal choque de juros, antecipando que a Selic vai para 14,25%", diz Gala, em referência à decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de aumentar a Selic em um ponto porcentual e sinalizar mais duas altas "de mesma magnitude" nas suas reuniões de janeiro e março de 2025.
A fragilidade da questão fiscal também foi apontada por economistas que, a pedido do Estadão, analisaram as razões por trás da alta do dólar. Para Silvio Campos Neto, economista da consultoria Tendências, por exemplo, "a crescente percepção de insustentabilidade fiscal está cobrando seu preço".
Leilão do tesouro
A turbulência dos últimos dias também bateu no mercado de juros. Em nota divulgada no fim do dia, o Tesouro Nacional anunciou o cancelamento do tradicional leilão de títulos públicos que estava previsto para ocorrer amanhã. A decisão veio depois de um dia de alta volatilidade nas negociações dos papéis. Ontem, houve quatro "circuit breakers" na plataforma. Ou seja, as negociações foram suspensas por um período em função da alta volatilidade das taxas dos títulos públicos: os prefixados e IPCA+ atingiram níveis recordes e, no fechamento da sessão, pagavam retornos de 15,33% e 7,58% ao ano nos vencimentos mais curtos, respectivamente.
O Tesouro informou que, na ausência do leilão desta quinta, 19, durante toda esta semana (quarta, quinta e sexta) realizará leilões de compra e venda de papéis cujas condições (ou seja, quanto o órgão aceitará de juros) serão conhecidas só no dia. "Acho que a ideia é tentar colocar um parâmetro de compra e venda nos títulos para voltar a uma normalidade", diz o estrategista de renda fixa da Necton Investimentos Fernando Ferez. Segundo ele, num ambiente de alta volatilidade o mercado fica sem referência.
De acordo com o órgão, "o objetivo da atuação é oferecer suporte ao mercado de títulos públicos, assegurando seu bom funcionamento e o de mercados correlatos". É a primeira vez desde maio de 2020, durante a pandemia de covid-19, que o órgão cancela um leilão tradicional de títulos públicos. Antes, cancelamentos haviam ocorrido também em momentos como a greve nacional de caminhoneiros e na crise política que teve como estopim o vazamento de uma conversa do empresário Joesley Batista com o então presidente Michel Temer (MDB).
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