O Bolsa Família, um dos principais programas de transferência de renda do Brasil, volta a ser tema de um intenso debate. Criado para combater a pobreza e garantir dignidade às famílias em situação de vulnerabilidade, o programa é apontado por alguns setores da sociedade como um possível desestímulo ao trabalho formal. Diante desse cenário, a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social de Pará de Minas (MG) anunciou que fará uma revisão detalhada dos beneficiários, a fim de identificar possíveis irregularidades.

Relatos vindos de diversas regiões do Brasil indicam que alguns beneficiários do Bolsa Família estariam recusando oportunidades de emprego com receio de perder o auxílio. Em Pará de Minas, um pedinte foi gravado no centro da cidade e revelou sua motivação para pedir dinheiro em vez de procurar um trabalho formal.

“Eu peço ajuda para minha mãe e para me sustentar, porque trabalhar hoje em dia é difícil. Se você quer viver bem, não pode trabalhar, porque se trabalhar, já não está vivendo bem. Você troca seu tempo por um dinheiro que vai conseguir com dificuldade, então é melhor conseguir de uma forma fácil. Aqui pelo menos dez pessoas me ajudam todo dia, melhor do que trabalhar e perder meu auxílio”, afirmou o pedinte, que preferiu não se identificar.

Outro caso gerou repercussão no mesmo local, quando um fazendeiro ofereceu trabalho a um homem que pedia ajuda. A proposta de R$ 150 pelo dia trabalhado foi imediatamente recusada, com o pedinte saindo correndo e gritando: “Não, não, não, não e não”.

Secretária promete pente fino e cruzamento de dados

Com a repercussão dos casos, Cláudia Assunção Faria, secretária municipal de Assistência Social, anunciou medidas rigorosas para apurar possíveis irregularidades. Segundo ela, a pasta já iniciou um recadastramento e um cruzamento de informações para verificar a veracidade dos cadastros.

“Estamos fazendo um mapeamento e um recadastramento do Cadastro Único para verificar a veracidade do Bolsa Família. Estamos realizando um levantamento geral, analisando a situação dos beneficiários em Pará de Minas e cruzando dados com outras secretarias. Já realizamos esse trabalho com a Secretaria de Educação para confirmar se a pessoa realmente está apta a receber o Bolsa Família. A atualização dos cadastros ocorre a cada dois anos, mas neste ano vamos intensificar o pente fino para garantir que o benefício esteja sendo concedido corretamente”, afirmou a secretária.

Impactos na economia e no mercado de trabalho

Especialistas alertam que a redução do interesse pelo trabalho formal pode trazer impactos negativos para a economia, principalmente no financiamento da previdência social. Com menos pessoas contribuindo, o risco de um déficit previdenciário cresce, gerando preocupações sobre a sustentabilidade do sistema a longo prazo.

O desafio está posto: como manter um programa social essencial sem estimular a dependência excessiva? A solução pode passar por mecanismos mais rígidos de fiscalização, incentivo à capacitação profissional e políticas que promovam a inclusão no mercado de trabalho. O Bolsa Família é uma política pública fundamental, mas precisa de aprimoramento constante para evitar distorções e garantir que atenda a quem realmente necessita.

Publicidade